28 de nov. de 2010

Os Escritos Técnicos de Freud - 27/11/10

Aprofundamento do CASO DE DICK

- Dr. Galvão defende que Dick é autista e deixa um convite em aberto para que outros venham discutir sobre isso;

- Melanie Klein consegue distinguir Dick de todas as crianças neuróticas, pela falta de ansiedade aparente e ele olha a Melanie Klein como se fosse um móvel, o que é típico de um autista;

- Melanie Klein não distingue bem introjeção de projeção; 

- A Dra. Gélinier critica, durante o seminário, Klein, se espantando com suas posições;

- Em Dick, vemos bem que há ESBOÇO de imaginificação, se é que posso dizer isso, do mundo exterior. Lacan Página 99);

- Não há em Melanie Klein nem teoria do imaginário, nem teoria do ego. Pois tudo para ela se situa no unreal reality (num plano de igual realidade) o que não permite conceber, com efeito, a dissociação dos diferentes sets de objetos primitivos;

- Estamos com Dick ao nível do apelo. O apelo toma o seu valor no interior do sistema já adquirido da linguagem. Ora, o de que se trata é que essa criança não emite nenhum apelo. O sistema pelo qual o sujeito vem se situar na linguagem é interrompido ao nível da PALAVRA;

- Ao apelo humano está reservado um desenvolvimento posterior, mais rico, porque se reproduz justamente num ser que já adquiriu o nível da linguagem;

- A palavra não chegou a ele. A linguagem não envolveu o seu sistema imaginário, cujo registro é excessivamente curto - valorização dos trens, dos botões das portas, do lugar negro. Suas faculdades, não de comunicação, mas de expressão, estão limitadas a isso. Para ele, o real e o imaginário são equivalentes;

- A partir do Caso de Dick e utilizando as categorias real, do simbólico e do imaginário, mostrei-lhes que pode acontecer que um sujeito que dispõe de todos os elementos da linguagem, e que tem a possibilidade de fazer certo número de deslocamentos imaginários que lhe permitem estruturar seu mundo, não esteja no real. Porque não está? - unicamente porque as coisas não vieram numa certa ordem. A figura no seu conjunto está pertubada. Não há meio de dar a esse conjunto o menor desenvolvimento. Lacan Página 105);


PRÓXIMO SÁBADO - Discussão do Caso de Roberto.

22 de nov. de 2010

Os Escritos Técnicos de Freud - 20/11/10

Continuação do CASO DICK com a participação especial de Dinara Guimarães.

 - Melanie Klein afirma ver "sintomas típicos" de uma demência precoce (termo em desuso, atualmente psicose esquizofrênica), excluindo uma doença orgânica;
- A neurose foi descoberta (o que é correto);
- Contra o diagnóstico de demência precoce: o desenvolvimento comprometido, a inibição e não regressão, além da esquizofrenia ser extremamente rara no início da infância;
- Ainda assim, Klein insistiu neste diagnóstico, ampliando-lhe para toda a infância;
- Rising (surgindo) -> A ansiedade (um sinal);
- A criança projeta sua agressividade nos objetos, se sente ameaçada, então ocorre a ansiedade;
- Todo o problema de Dick gira em torno da capacidade de simbolizar;

Nesse seminário, Lacan confunde a realidade (construída) com o real, dizendo que Dick vive na realidade.

"El vit dans realité." Pg. 82 

- Klein não construiu uma teoria do ego, do imaginário, etc., mas reconhece-se sua grande ousadia de falar com essa criança;
- Klein emprega o termo pré-maturação para dizer que Dick já atingiu, de algum modo, o estágio genital (como os kleinianos explicam isso?);
- Dick não assume, não pode estar no estágio genital;
- O trabalho de Klein gira em torno do sadismo como fundamental para o desenvolvimento de toda fonte de prazer genital;
- No caso de Dick, tal capacidade (o sadismo) não estaria bem desenvolvida;
- Lacan contradiz o que disse na pg. 82 falando que para Dick a realidade está bem fixada, pois ele não pode fazer idas e vindas;
- O VAZIO E O PRETO (o que Dick distingue);
- Hiância -> produzir o que é humano;
- Dick diz "poor Melanie Klein" ao vê-la com uma roupa um pouco despedaçada e nisso se encerra a resistência;

A TÓPICA DO IMAGINÁRIO

- Título ambicioso;
- Evoca o caso de Dick como sintetizável, pois mostra de maneira reduzida os grandes termos (imaginário, simbólico, real);
- Lacan confunde o registro da realidade com o real;
- Lacan desenvolve esses três trópicos, remetendo-se ao caso Dick;

O importante não é só compreender, mas não compreender e buscar pela compreensão (o que conta ao tentar se elaborar uma experiência);

- A dimensão do real suscita a incompreensão;
- "Comentar um texto é como fazer uma análise", diz Lacan;
- Interpretar e compreender não é muito a mesma coisa;
- Às vezes o texto dá impressão de que se sustenta, mas apenas à custo de ladainhas (maturação instintiva);
- O simbólico não é a linguagem;
- O eixo do imaginário -> temor ansioso;
- Modelo Ótico -> diverisdade de imagens;
- No gráfico de Freud o termo correto seria impressão e não percepção;
- Em matéria de ótica nunca sabemos a diferença entre o subjetivo e o objetivo;
- O arco-íris é um fênomeno subjetivo quando registrado em foto se torna objetivo;

Considerações de D. Guimarães:

Quando convidada a participar da palestra, principalmente para responder às críticas observadas pelo Dr. Galvão ao Seminário I, de Lancan, D. Guimarães foi muito clara ao relatar todas as condições do material publicado, incluindo a situação limitante pelo próprio modelo de seminário, e demais motivos que podem ter levado Lancan a tais possíveis falhas de compreensão. 
Dinara cita o fato de que as transcrições da obra podem ter sofrido muitas modificações, além disso, faz uma comparação com alguns escritos não oficiais dos seminários que a mesma possui, e afirma suas diferenças, propondo que alguém faça esse minucioso trabalho de comparação, afim de abrir luz à muitas dúvidas frequentes de tradução e transcrição, como tanto expõe o Dr. Galvão ao dizer que é preciso deter a cópia na língua original dos exemplares, mas não somente. 
Dinara também explica a aplicação do Modelo Ótico, tudo isso sob um agradável clima de debate com Dr. Galvão e demais participantes da palestra. Agradecemos a sua participação e deixamos em aberto o convite para mais momentos como esse.

Psicanálise & Cinema - Inauguração


Na manhã de sábado do dia 21 de novembro de 2010, foi realizado o evento de abertura  (Manhã Cultural Padre Luiz Ruas) do projeto PSICANÁLISE & CINEMA, supervisionado pelo Prof. Dr. Galvão, na Faculdade de Medicina (UFAM). 
Quem foi o Padre Ruas?
Cinéfilo, Padre e Poeta, Luíz Ruas beneficiou a sociedade amazonense com sua contemplação a arte e culto ao inovador.  O Projeto “A Psicanálise e o    Cinema” inaugura suas atividades  homenageando Luiz Ruas e apresentando um espaço de lazer e cultura aos estudantes e sociedade amazonense em geral

Como foi o evento?

O evento homenageou a memória e o ímpeto pioneiro deste ousado cidadão manauara que prestou suas habilidades criativas à constituição da identidade cultural Amazonense. O encontro objetivou discutir enredo e cenas acerca do filme erguendo questionamentos em geral sob a abordagem da Psicanálise e Psicologia, bem como, das diversas áreas do conhecimento concernentes às ciências humanas.

Participação especial de Dinara M. Guimarães

Importante presença na Manhã Cultura foi a de Dinara Machado Guimarães, Psicanalista e Doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ; autora dos  livros em psicanálise e cinema: Voz na luz e Vazio Iluminado: o olhar dos olhares.

Dinara participou inclusive, com relevantes contribuições, do projeto Psicanálise na Cultura, no sábado à tarde do mesmo dia, onde foram debatidos alguns possíveis equívocos de Lacan e, ainda, o caso Dick, de Klein.

Confira mais no próximo tópico específico do mini-curso Os Escritos Técnicos de Freud.

16 de nov. de 2010

Os Escritos Técnicos de Freud - 13/11/10


A DIMENSÃO SIMBÓLICA

- Toda percepção remete para uma percepção anterior;
- Para "denegar" é preciso antes afirmar (há uma estreita ligação entre ambos);

Ernst Kris e as graves entraves em seu trabalho intelectual

- Ele tem a sensação de ser um plagiário;
- Apesar da dificuldade de produzir, ele declama que toda sua tese já estava em sua biblioteca;
- Seu pai nunca publicou nada porque era esmagado por um avô que produzia muito;
- O analista não deve fazer uma pretensa análise de superfície, proposta por Kris;
- Não se faz interpretação baseada no comportamento do sujeito;
- A interpretação é válida, mas é importante ver como o sujeito reage a ela;
- O sujeito produz um "acting out", o que é produto de uma interpretação mal feita;
- O que interessa é extinguir a dimensão simbólica;
- Kris está entre o símbolo e o eu;
- É muito difícil conceber um eu autônomo, pois ele está sempre em função de outras instâncias;
- Lacan diz que "o eu é uma função de desconhecimento";

O CASO DICK

- Artigo de Klein: "A importância da formação do símbolo no desenvolvimento do eu", 1930;
- Ela considera que é preciso um certo nível de ansiedade para a construção de símbolos e fantasia (mas também se contradiz dizendo que o sujeito já nasce com essa capacidade);
- Dick não apresenta ansiedades; um caso de inibição do desenvolvimento do ego (não havia simbolismo);

"Dick tinha quatro anos de idade e pobreza de vocabulário, estava no nível de uma criança de quinze a dezoito meses." Klein

- Dick possivelmente era autista; não demonstrava muitos afetos, era indiferente à presença da mãe e da babá, não brincava, não tinha interesses, emitia ruídos;
- Klein utilizou um método brutal de intervir em Dick, através de trenzinhos, mas apesar dessa brutalidade, o método funcionou, pois fez Dick adentrar no simbolismo;
- Toda a teoria de Klein é em cima do corpo da mãe e do ataque de Dick a ele;
- Klein sabe que não se trata de uma esquizofrenia, mas se confunde ainda assim. A psicose é adquirida, o autismo não; a criança já nasce predisposta;
- O esquizofrênico possui alto nível de ansiedade, é angustiado (ao contrário do autista);

[CONTINUA] Próximo sábado.

11 de nov. de 2010

Os Escritos Técnicos de Freud - 06/11/10


RESISTÊNCIA (continuação)

Toda comunicação tem intenção de apoiar-se no outro;
- Resistência se dá em movimento de báscula, tendo como enfoque se relacionar com o desejo;
O que é o ego na Psicanálise?

- Se constitue nessa relação essencialmente diferente da Psicologia, onde ele é função de síntese, passível de se conhecer;
- Para a Psicanálise o ego exerce função de desconhecimento. Ele é passional, apaixonado pela ignorância; 
- Ego é lugar do desconhecimento por ser constituído por identificaçoes;
- O sonho tem função de palavra;
- O sistema simbólico é caracterizado pelo entrecurzamento linguístico (verschlungenheit);
- Só existe análise devido a ambiguidades;
- Denegação (verneinung), Freud, 1925;
- Simbolização primordial;
- O símbolo somente vem através da pulsão de morte;
- A palavra é a morte da coisa;
- Lacan faz questão de mostrar que a atuação de Freud não constitui uma luta contra resistência e que ele era completamente contra a "tirania da sugestão";
- Só há destinção entre as coisas devido a negação. Trabalho descompensado pela pulsão de morte;
- A inteligência humana brota a partir do afeto;
- A Psicanálise recupera o mito: a gênese da inteligência e do afeto é explicada pela Psicanálise de forma mítica;
- Negar é mais do que querer destruir - o negado vai aparecer;
- É preciso haver negação da negação para que o sim apareça. É pela negação que o símbolo vem ao mundo;
- Quando não há castração no simbólico ocorre alucinação no corte do real (pois não é feita a simbolição primordial);

10 de nov. de 2010

Informativo: Psicanálise e Sintoma

Está no ar o novo Blog do Dr. Galvão sobre a Psicanálise e o Sintoma. Com publicações sobre o Sintoma e Casos Clínicos diversos.

http://psicanalisesintoma.blogspot.com/

E estamos a procura de pessoas interessadas a ajudar no projeto.

5 de nov. de 2010

Informativo - Próximo Sábado


 No mini-curso Os Escritos Técnicos de Freud, no sábado do dia 06/10/10, a temática RESISTÊNCIA continuará sendo abordada, devido a sua grande importância, frequência e complexidade dentro do contexto clínico, como bem ressaltado por Lacan. 

No sábado do dia 13/10/10, aula posterior, será discorrido o CASO de DICK e o erro presente neste, de Melanie Klein, e faz-se aqui um convite aos Kleinianos para participarem da discussão.

2 de nov. de 2010

Os Escritos Técnicos de Freud - 30/10/10


O Eu e o Outro - vide aqui os assuntos abordados na palestra do dia 30/10/10, ainda dentro do mini-curso à respeito do Seminário I, de Lacan.

A presença

- Normalmente não nos damos conta da presença do outro;
- Não seria fácil viver se a todo instante tivéssemos o sentimento de presença;

A relação de transferência e resistência

- No caso do homem dos lobos, há um mecanismo diferente da do recalque, pois seu problema gira em torno da castração;
- O psicótico é prisioneiro de uma relação anal, Lacan traduz "verwerfung" por "recusa", o que não é correto, uma vez que o fenômeno no caso é muito mais grave;
- "Uma recusa é algo diferente de uma foraclusão";
- Não há julgamento na recusa;
- Para Freud, a operação do recalque é mais complicada do que o próprio recalque inicialmente exigido;
- Recalque originário (que possibilita a castração) -> quando a criança abre mão do amor da mãe tomado pelo pai;
- A essência da descoberta Freudiana existe na origem do recalque;
- É na dúvida do paciente que se reconhece os aspectos mais importantes;
- É muito difícil interpretar o louco porque ele vive em certeza;

Análise do "esquecimento" de Freud

- A impossibilidade que encontra Freud ao evocar o nome de Signorelli (nem esquecimento nem recalque);
- Freud e a identificação com a pintura de Signorelli; O Juizo Final (é como se Freud reconhecesse seu próprio futuro na pintura);
- "Do sublime ao ridículo não há mais que um passao", do francês "Du siblime au ridicule il ny'a s'u un pas."
- Só há memória porque existe o esquecimento;
- Guy Rosalato produziu uma obra muito recomendada sobre esse episódio de Freud;

As funções da palavra

- A resistência é a dificuldade de revelar;
- Lacan ignora a distinção entre "palavra" e "morfema";
- Na análise a palavra se degrada quando perde a função de revelação para a função de comunicação;
- A palavra é a mediação entre o sujeito e o outro;
- Revelação e não expressão (ponto máximo do Seminário I), pois ao longo da análise a palavra bascula entre essas duas coisas;
- Não existe palavra plena;
- É o próprio analista quem cria as condições de resistência do paciente;