10 de set. de 2010

Notas: aula do dia 11 de Setembro

A Infância do Delírio - Quando há algo de podre no Pai.

Ainda parte do curso Figuras da Recusa, a aula do dia 11 de setembro irá fazer referência à relações familiares e suas consequências e benefícios para uma criança; foraclusão e laço social: os avatares da função paterna no mundo contemporâneo.

Acerca deste tema é valido fazer uma visita a uma página de blog que faz uma reflexão muito interessante sobre o que de podre no reino de Édipo:


A aula estará baseada em trechos da tragédia Hamlet :

Hamlet é uma tragédia de William Shakespeare, escrita entre 1599 e 1601.
A peça, passada na Dinamarca, reconta a história de como o Príncipe Hamlet tenta vingar a morte de seu pai Hamlet, o rei, executando seu tio Cláudio, que o envenenou e em seguida tomou o trono casando-se com a mãe de Hamlet.
A peça traça um mapa do curso de vida na loucura real e na loucura fingida — do sofrimento opressivo à raiva fervorosa — e explora temas como a traição, vingança, incesto, corrupção e moralidade.



Psicanálise

Desde o surgimento da psicanálise em finais do século XIX, Hamlet tem sido a fonte de tais estudos, e experimentou análises – realizadas por nomes como Sigmund Freud, Ernest Jones e também Jacques Lacan – que influenciaram produções teatrais posteriores.

Freud sugeriu que um inconsciente complexo de Édipo causou a hesitação de Hamlet a matar seu tio. (Artista: Delacroix, 1844).Em seu A Interpretação dos Sonhos (1899), Freud utiliza uma variedade de obras literárias para entender e explicar o comportamento das ações humanas. Talvez a mais conhecida seja a tragédia Édipo Rei, de Sófocles, onde Freud encontra a essência do que viria a chamar de complexo de Édipo, complexo que parece estar intimamente presente no príncipe Hamlet. Nos estudos de Freud, Hamlet complementou o que faltava em Édipo Rei, ou seja, lhe entregou aquela intenção de explicar um desejo que não coloca o sujeito necessariamente na ação, mas, ao contrário, o impede. Assim, embora Freud tenha dado o nome de Complexo de Édipo, talvez como um modo de ser fiel àquilo que mais precocemente foi concebido na história cultural da humanidade, é Hamlet que se encontra mais consistente em suas idéias.[c] Após essas análises, Sigmund conclui que "Hamlet encontra-se impossibilitado de realizar a vingança da morte do pai, tendo em vista que o assassinato deste, na verdade, atualiza seus desejos infantis reprimidos — ou seja, matar o pai e ficar com sua mulher." Confrontado com sua repressão psicológica, Hamlet se dá conta de que "ele próprio não está em estado melhor do que o pecador que ele quer punir." Freud sugere que o aparente desgosto sexual de Hamlet, articulado na cena onde ele diz para Ofélia ir a um "convento de freiras" tem consonância com essa interpretação.

Sob os parâmetros de Freud, ao contrário da crença de Goethe,[d] Hamlet era capaz de matar uma pessoa, como fez sem a menor parcela de culpa com Polônio (na imagem), mas não era capaz de matar seu tio porque esse lhe remetia a seus impulsos infantis. (Artista: Delacroix).Enquanto o príncipe não mata seu tio e não vinga a morte do pai, ele conduz vários outros personagens à morte. Um deles, o conselheiro Polônio, é assassinado pela espada de Hamlet, que não demonstra qualquer culpa no ato: "Adeus, mísero tolo, intruso e temerário! Tomei-te por alguém mais alto; aceita a sorte/ Bem vês que há algum perigo em ser intrometido." Nessa ocasião, há a interpretação de que Polônio, por ser um dos personagens de figura paterna na peça, poderia remeter Hamlet a seu próprio pai, mas isso não ocorre. É por meio desse exemplo, do assassinato de Polônio, que Freud discorda de Goethe — defensor da tese de que a hesitação do príncipe se deve sobretudo por causa de sua inclinação à racionalização —, mostrando-lhe que Hamlet é capaz de matar alguém, exceto seu tio, pelo motivo do completo de Édipo. Talvez a proximidade entre a ação de Cláudio e o desejo de Hamlet seja o fator que impede este de matar aquele.  Concluindo, Freud crê que a hesitação de Hamlet em realizar a tarefa da qual foi incumbido se deve à natureza da mesma tarefa, isto é, ele precisaria vingar o pai matando seu assassino mas, infelizmente, esse assassino (o tio Cláudio) lhe reflete seus impulsos infantis e isso faz com que Hamlet não se vingue. Desta forma, os fatores que impedem o assassinato de Cláudio por Hamlet seria sua identificação com o tio e o medo de praticar uma ação injusta e imoral com a figura paterna que este lhe representa. Posteriormente, o ator John Barrymore introduziu essas explicações freudianas em sua marcante produção de 1922 em Nova Iorque, que se prolongou por 101 noites.

Em 1940, Ernest Jones — psicanalista e biógrafo de Freud — desenvolveu as idéias freudianas introduzindo uma série de ensaios que culminaram em seu livro Hamlet and Oedipus (1949). Influenciado pelas abordagens psicanalistas de Jones, inúmeras produções têm retratado a "cena do closet", quando Hamlet confronta sua mãe na câmara dela, em uma função sexual. Sob essa leitura, Hamlet está desgostoso por sua relação incestuosa com Cláudio enquanto simultaneamente está temeroso de matá-lo, e isso fica claro quando ele conduz sua mãe para a cama, consolando-a. A loucura de Ofélia após a morte do pai também pode ser lida através de lentes freudianas como uma reação à morte de alguém que esperava seu amor, o pai dela. Ela está tão saturada de ter seu amor não-cumprido por ele que terminou de forma abrupta que acaba se entregando à insanidade. Em 1937, Laurence Olivier realizou Hamlet no Old Vic sob as perspectivas de Jones.

Na década de 1950, as teorias estruturalistas de Lacan sobre Hamlet foram apresentadas pela primeira vez em uma série de seminários dados em Paris e logo depois publicadas em O Desejo e a Interpretação do Desejo em Hamlet. Lacan estipula que a psique humana é determinada por estruturas de linguagem e que, consecutivamente, as estruturas lingüísticas de Hamlet lançam luz sobre a ânsia humana. O ponto de partida de Lacan foram as teorias do complexo de Édipo de Freud, e também o tema central de luto que é exercido pelo príncipe Hamlet. Na análise de Lacan, Hamlet, inconscientemente, assume o papel de falo — a causa de sua inércia — e está cada vez mais distanciado da realidade por conta do "luto, da fantasia, do narcisismo e da psicose", que criaram buracos (ou "faltas") nos aspectos reais, imaginários e simbólicas de sua psique. As teorias de Lacan influenciaram a crítica literária de Hamlet porque utilizaram visões alternativas da peça e o uso da semântica para explorar o panorama psicológico da obra

Além disso, para fazer uma ilustração do tema trabalhado, sugerimos a leitura do texto publicado no site: http://www.estadosgerais.org/historia/125-foraclusao.shtml. que faz referência ao Nome do Pai e a foraclusão na Psicose.

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Obs: qualquer aluno ou profissional poderá assistir as aula individualmente e receberá uma declaração pelas horas cursadas.

Informações: Fernanda - 91077074 / 81355174