18 de jun. de 2010

PSICANÁLISE E CINEMA

Na cidade de Manaus e em especial nas universidades, não se promove reflexões psicanalíticas sobre o cinema. Tem-se ignorado a psicanálise como fonte de refletir o cinema.
O cinema clássico de ficção, em particular, o cinema americano apresenta uma visão muito limitada da psicanálise ao modelo de cinema tal como definido pelo modelo catártico:
“O cinema americano faz dele o modelo, embora saiba que se falou apenas da primeira etapa que foi ultrapassada rapidamente e que é muito limitada no tempo. Por que é que filmes rodados a partir de 1940 se mantiveram pelo estudo dos trabalhos em 1890? Por que é esse modelo que melhor corresponde aos esquemas de cinema clássico de ficção.



Na verdade, nenhuma diferença existe entre um malfeitor que se recusa a falar na polícia e que acaba por se sentar à mesa e um doente (que se sabe criminoso) que não se lembra, mas que acaba apesar de tudo por reaver a memória e/ou a solução do enigma” (Psicanálise e cinema. Marc Vernet, pág. 74-75).
A Psicanálise é exibida no cinema de forma primária e sob o olhar de fora. O cineasta como contemplador da psicanálise a exibe de maneira superficial, a metapsicologia é expressa apenas como um projeto simplista. O projetista (o cineasta) não se trata de um psicanalista, mas de um expectador que domestica a psicanálise e assim a retransmite, sob a condição de seu olhar, aos expectadores da vida (o público).


A produção cinematográfica é executada pelos valores dominantes e não pelo real desejo do espontâneo ser psicossocial. “O cinema transformou-se em uma gigante máquina de modelar a libido social”. (O Divã do Pobre. Felix Guattarri). O desejo encontra-se editado, maquiado, ditado e socializado. Mediante tal aceitação coletiva, o cinema domestica subjetividades exibindo moldes superficiais da psicanálise e determinando desejos, comportamentos, objetivos, sonhos, dentre outras elaborações psíquicas.
Por essas e outras razões é que o cinema não tem nada a contribuir para a compreensão da Psicanálise. Pelo contrário, o cinema revela um grande atraso em relação às produções psicanalíticas.


Os alunos da UFAM e de outras universidades como o público em geral terão a oportunidade de acesso a esse saber sobre a domesticação da psicanálise levada a cabo pelo cinema.
No Amazonas, ainda não existem registros acerca da crítica ao cinema e suas limitações tendo como referencial a Psicanálise.A criação de um espaço de leitura crítica ao cinema via psicanálise oportunizaria os levantamentos necessários a produções acadêmicas que manteneriam e ampliariam as investigações pelo conhecimento científico referente à realidade social e suas implicações pelas massas e subjetividade.
A participação dos acadêmicos junto a profissionais de áreas afins, bem como, de outras, além da sociedade em geral, integraria os estudantes em um diálogo que permitiria suas autonomias e os incentivariam ao cumprimento de seu papel social através de sua principal contribuição, o pensamento científico.E ainda, possuindo como mediadora a universidade, a iniciativa do projeto aproximaria as atividades universitárias à comunidade em geral, providenciando a familiarização dos estudantes e profissionais aos reais questionamentos elaborados pela sociedade e suas dificuldades.Deste modo, a sociedade amazonense se beneficiaria com sua participação nas atividades de extensão da Universidade Federal do Amazonas e os estudantes poderiam aprimorar seu processo de aprendizado através de seu desempenho ativo no social, tanto na produção acadêmica quanto no diálogo com a sociedade.

Propiciar discussões sobre ciência e a realidade suscita questionamentos fundamentais ao processo evolutivo de uma sociedade. Refletir a Metapsicologia por meio da crítica às obras cinematográficas pode se tornar uma proposição ao pensamento universitário sobre os atuais fatores reais e autônomos que banalizam e industrializam a constituição das subjetividades em tempos contemporâneos.

OBJETIVOS:


Objetivo Geral:

-Propor ao público em geral um questionamento sobre a imagem simplificada que o cinema construiu e constrói da psicanálise. Através de obras cinematográficas, fomentar discussões psicanalíticas capazes de construir uma visão crítica sobre as atuais produções cinematográficas, suas limitações teóricas e sua parcela de contribuição à alienação social.


Objetivos Específicos:

- Proporcionar à comunidade acadêmica das ciências humanas uma proposta de reflexão sobre a psicanálise por meio da eleição de temas que fazem alusões críticas ao recurso cinematográfico e sua visão do psiquismo e da realidade (por exemplo: “A Histeria em Madame Bovary e a representação clássica do sintoma”).
- Apresentar a limitação do cinema e seus pontos de alienação através da exibição de filmes considerados como clássicos (abordando cineastas como: Fellini, Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick , Almodóvar, Wenders dentre outros renomes do contexto cinematográfico);
- Propor uma ida ao cinema acompanhado do método psicanalítico de leitura. Desta forma, criar condições materiais (um espaço de exibição dos filmes e de discussão) e subjetivas (autonomia da palavra, diálogo com outros posicionamentos e produção crítico-acadêmica) para uma crítica mais extensa e profunda de inspiração psicanalítica ao cinema americano e a outros cinemas;
- Definir os usos extremamente simplificados da psicanálise pelo cinema através da leitura de filmes que versam sobre o trabalho analítico;
- Tentar compreender as analogias de temas entre o sonho e o filme. Os referidos temas encontram-se presentes em filmes como: Morangos Silvestres (1957) e Oito e Meio (1963);
- Mostrar aos alunos da UFAM e ao público em geral que a maioria dos filmes que se referem à psicanálise, e em especial ao tratamento psicanalítico, nos depara com aquilo que se assemelha a condução da cura tal como Freud a praticava entre 1880 e 1895: o método catártico;
- Propor uma visão crítica do cinema na medida em que o cinema pode funcionar como uma descarga psíquica a baixo preço. Através dos temas propostos, possibilitar-se-ão discussões que abordam a articulação existente entre a produção de filmes e sua influência social na constituição de subjetividades;
- Levar o público a refletir se a idéia de inconsciente na situação: “O cinema hoje tem a nossa disposição um inconsciente caseiro perfeitamente idealizado”

METODOLOGIA
 
 
O Projeto Psicanálise e Cinema se efetivará através de reflexões e produções científicas providenciadas por encontros em eventos quinzenais, bem como, por parcerias com outros projetos e instituições. A execução do projeto será possibilitada a partir da eleição de filmes com temas e questões relacionadas à psicanálise. Em seguida, uma parceria com o Projeto Clube do DVD (vinculado a ProComum), proporcionará encontros entre acadêmicos, cinéfilos, profissionais (cineastas, professores, escritores, filósofos, sociólogos, jornalistas, antropólogos, dentre outros) e a comunidade em geral através da promoção de eventos no espaço do referido projeto.
 

A exibição dos filmes será apoiada pelo acervo cinematográfico disposto pelo Clube do DVD e a projeção poderá ser efetivada por responsáveis pelo projeto ligado a ProComum.
Os eventos serão divulgados por meio de folders, cartazes e faixas; além de visitas e formalizações de convites a outras instituições de ensino, cultura e lazer. Durante os encontros, após a exibição dos filmes, os presentes participarão de discussões alusivas a questionamentos sobre a relação psicanálise e cinema. Após o final de cada evento, as reflexões levantadas e elaboradas serão configuradas em redações e publicadas na home page do projeto.
A partir do andamento do projeto, anseia-se estender as discussões de roteiros e sinopses dos filmes através da inserção do projeto em um dos quadros do Programa Set Ufam veiculado pela TV Ufam. Deste modo, a crítica ao cinema via referencial psicanalítico se abrangeria a toda a comunidade amazonense.
Enquanto o projeto Psicanálise e Cinema for realizado, a necessidade da obtenção de outros filmes e bibliografias para a fomentação das discussões será sanada pela criação de um acervo de livros e de filmes em DVD nas dependências da Universidade; esta iniciativa beneficiará a comunidade acadêmica e aos docentes preocupados em dinamizar suas aulas. E ainda, é válido ressaltar que o projeto visa estabelecer contatos eletrônicos, através do Fale Conosco no site, com editoras e grupos virtuais interessados em fornecer suporte bibliográfico e contribuições teóricas necessárias às reflexões encadeadas pelo projeto.
A evolução do projeto pode direcioná-lo a comunicações científicas com instituições localizadas nos demais estados brasileiros. Assim, faz-se necessário a solicitação de passagens aéreas com destino, em particular, à metrópole paulista, oportunizando o diálogo com autores, iniciativas e teóricos em Cinema e Psicanálise.
O acesso a obras cinematográficas e a proposta de discussões à luz do referencial psicanalítico proporcionará aos alunos, profissionais e à comunidade em geral o suporte para o questionamento sobre a sociedade contemporânea, suas vias históricas, sua dinâmica e os processos psíquicos que a constituem e encadeiam sua alienação, psicopatologias, bem como, seus desejos coletivos.