Estar em um projeto de extensão em que se visa à atenção a crianças com sofrimento psíquico decorrente de transtornos biopsicossociais, é bastante enriquecedor tanto no âmbito intelectual quanto no âmbito pessoal.
A atuação na extensão possibilitou o acesso ao saber psicanalítico e clínico através de duas maneiras, uma com os textos sugeridos para leitura pelo coordenador e outra com os atendimentos grupais e individuais realizados no ambulatório, essas duas práticas se complementam, tendo em vista que é impossível desvincular a teoria da prática, é somente por meio da prática que se pode refletir de forma crítica e contextualizada a teoria ora estudada.
A extensão abrange, além da relação dentro dos grupos terapêuticos, o acesso a toda a dinâmica hospitalar que envolve relações interpessoais entre os funcionários, técnicos e pacientes, o funcionamento institucional e burocrático dentre outros fatores. Deste modo, atuar na extensão nos sugere a adoção de um olhar segundo um modelo biopsicossocial que assim como a abordagem holística busca observar o indivíduo em todos os sistemas com quem interage (familiar, social, biológico, psicológico...) simultaneamente e com interrelações constantes entre elas. A extensão consiste em acesso ao campo prático e as diversas variações do campo profissional, no caso em questão, o ramo da psicologia clínica ou psicologia hospitalar sugiram como possibilidades de escolha profissional posterior, seja como campo de pesquisa ou de atuação. Deste modo, o projeto contribui com a formação acadêmica de seus alunos ampliando o leque de possibilidades e promovendo a qualificação e boa formação de profissionais.
Com esse trabalho é possível detectar precocemente os distúrbios de linguagem, dificuldades de desenvolvimento relacionadas à socialização, à aprendizagem e à aquisição de autonomia, psicoses de infância, tanto das formas típicas como das formas atípicas. É possível também a percepção de que a utilização dos medicamentos muitas vezes é desnecessária e que uma vez suspensos, somente com terapia contínua, as crianças alcançam uma melhora inquestionável. Observa-se que essas crianças muitas vezes passam por um comprometimento na linguagem, no seu plano verbal, por estarem sujeitas a uma passividade que os medicamentos lhes sugerem, anulando a criação do seu próprio desenvolvimento.
Com a participação contínua no grupo terapêutico, as crianças acessam progressivamente o convívio social, o discurso e a fala; sabendo que a fala constitui uma via de acesso ao inconsciente e aos conflitos nele existentes, a interpretação e compreensão desta favorecem a resolução de conflitos que, de algum modo, interferem no desenvolvimento psíquico da criança.
Porém, apesar do bom funcionamento e das melhorias alcançadas no decorrer de um ano de extensão, há ainda muitos aspectos que poderiam ser melhores e propiciar uma maior eficácia e eficiência às ações do projeto. Entre estes fatos, podemos destacar a inadequação do espaço onde ocorrem os grupos semanalmente, trata-se de um consultório ambulatorial de dimensões demasiado pequenas para comportar um grupo de crianças em atividades; outro fator se refere aos escassos recursos para a compra de material, que ficou sempre a cargo dos discentes, dependendo de doações ou investidas de outro projeto de extensão que gera renda (Psicanálise na Cultura) e por fim, um atendimento em abordagem psicanalítica fica sempre prejudicado quando se realiza atravessado pelo funcionamento de uma instituição, na situação da extensão, esbarrava-se por diversas vezes no funcionamento burocrático da instituição, seja para marcar e remarcar atendimento, seja para ter acesso aos prontuários dos pacientes e até mesmo para ter disponibilidade de espaço para a implementação das atividades; eventos que atrasavam e muitas vezes prejudicavam as ações.
Fernanda Priscilla P. da Silva
Acadêmica de Psicologia
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