Atualmente, a preocupação com a criança adquiriu força, tanto no campo de educação quanto no da saúde. Entretanto, na cidade de Manaus, os serviços realizados por equipes multidisciplinares voltados para o atendimento de crianças como sujeito do processo são bastante escassos. Com relação à saúde, pensa-se em serviços específicos, locais exclusivos de atendimento e atenção à infância.
Fala-se muito em prevenção, porém ainda não se sabe tão bem o que é possível prevenir e o que não é. Devido a esta dificuldade no que diz respeito à prevenção, pode-se vislumbrar uma outra vertente de trabalho com a criança, isto é, a realização de um diagnóstico (ou hipótese diagnóstica) e intervenção precoces.Partindo de experiências adquiridas, inicialmente, na Sociedade Pestalozzi e também, no PAM-Codajás, verificou-se a necessidade de continuidade do trabalho e da ampliação do espaço de escuta para outros serviços voltados para o atendimento de crianças com dificuldades de desenvolvimento em decorrência do sofrimento físico, moral e psíquico.
O projeto a ser desenvolvido, a partir de uma perspectiva multidisciplinar, procura aproximar a psicologia, a medicina e essencialmente o saber psicanalitico, oportunizando, desta forma, à criação de um campo de estágio para os alunos desses cursos, proporcionado, assim, uma interação entre universidade e a comunidade.
A abordagem teórica utilizada é a psicanálise, e para esta não existe outro meio de realizar um tratamento, senão pela fala do paciente, pois, somente através da fala, existe a possibilidade de explorar os efeitos do inconsciente. Mas, há de se lembrar que o falar compreende mais do que a simples enunciação de palavras, o falar é um meio de atingir o outro e se fazer reconhecer por este, portanto, fala-se com o corpo, fala-se ao brincar (como também se brinca com o falar). Portanto, durante a terapia, deixa-se a criança livre para se expressar utilizando o desenho e o brinquedo e por meio desses instrumentos é possível detectar os distúrbios de linguagem e desenvolvimento e propor uma terapêutica baseada na construção do laço social dessas crianças, promovendo sua integração à escola, sociedade e família. O jogo e o brincar vinculam-se à constituição do sujeito, pois se torna protótipo de uma atividade simbólica e é por meio deste simbolismo que a criança com dificuldade de formular e expressar seu próprio discurso assume o discurso do outro, se apropriando deste como uma forma de identificação, de existir e de se expressar. Desta maneira, seu discurso não fala de seus desejos, mas dos desejos do Outro. A terapia oferece à criança uma forma de buscar seu próprio discurso, uma auteridade pessoal que a identifique como sujeito e a ajude a construir uma imagem sua e a expressá-la.
Dentro da experiência psicanalítica com crianças, o brincar é prática essencial, pois possibilita a expressão do desejo. Faz-se necessário salientar que no trabalho desenvolvido, não se dá ênfase ao brinquedo, pois a essência do processo do brincar não é o brinquedo, já que tudo pode servir para brincar. Só se pode falar em brinquedo, a partir do momento que a criança adquire a capacidade de diferenciar os objetos, um processo desenvolvido ao longo da terapia conforme a criança interage com as outras crianças e os terapeutas.
Na clínica psicanalítica é fundamental o conceito de transferência, processo que servirá como base para a condução do tratamento. Segundo Freud (1895), transferência seria a reedição de toda uma série de experiências psíquicas prévias, não como algo passado, mas como vínculo atual com a pessoa do médico permitindo identificar uma origem, no passado da criança, que possa ter desencadeado as dificuldades que ela apresenta hoje, o que é imprescindível para a condução correta da terapia e o tratamento. O público alvo passa a ser constituído por todas as crianças que procuram os serviços de psiquiatria já citados, sendo atendidas individualmente e/ou em grupo, dando continuidade ao trabalho voltado para a disponibilização de um espaço de escuta. Ao longo do trabalho, os pais serão solicitados a comparecer às instituições para obtenção de dados suplementares, através de encontros que poderão ser realizados individual ou coletivamente.
Todo esse processo propicia aos alunos da instituição uma oportunidade de contato e trabalho com crianças, adquirindo experiência e segurança na relação com indivíduos e a compreender a problemática infantil característica de nossa sociedade.
Com relação aos diagnósticos, estes não serão realizados sem que o contato com a criança tenha se iniciado, já que, de acordo com a abordagem psicanalítica, o diagnóstico tem como base à relação transferencial. Semanalmente, discentes e docentes se reunirão para a discussão de casos, leituras e supervisão. Pretende-se realizar encontros com especialistas em desenvolvimento infantil
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